Marcelo Toledo trabalha em startups de tecnologia há mais de 14 anos. Foi diretor da Vex até sua venda para Oi e também Fundador e CEO de 5 startups de tecnologia, dentre elas o Payleven, do grupo Rocket Internet. Atualmente é CTO da Oi Internet e recentemente lançou o livro DONO.
1. Você desde cedo teve um crescimento muito rápido na área de tecnologia. Você considera que desde o espírito empreendedor já estava lá ou foi algo desenvolvido conforme ganhava mais experiência na área?Desde criança eu já fazia movimentos para tentar empreender.
Um dos primeiros empreendimentos que eu fiz, isso por volta de uns 7 anos de idade, foi vender “geladinho” (sacolé, juju, chup-chup, etc.) no prédio em que morava. Inventava os mais variados sabores, fazia folhetos de divulgação em papel sulfite e vendia um monte para toda a criançada do prédio. Exatamente com esse espirito e vontade continuei tentando “sair do lugar”, insistentemente, até os dias de hoje.
Outras passagens como essa eu relato no meu livro DONO, inclusive a introdução conta uma história de quando tentei comercializar suco de clorofila, aos 17 anos de idade.
Acho que o meu espirito empreendedor deu uma catapultada quando eu fui atleta de natação.
Lá eu aprendi que para conquistar medalhas eu precisava me esforçar nos treinos, durante um ano inteiro, 7 dias por semana, duas vezes por dia, para chegar em um grande campeonato ao meio e ao final do ano.
É um esporte solitário, então se você se enganar nos treinos, você só tem um destino: a derrota. Lidar com a derrota e saber perder é algo importante. Mas o que é vital é aprender que a vitória é conquistada não no dia da competição, mas nos meses que antecedem.
Fazendo uma analogia para as competições de startup, você até pode ganhar uma dessas competições em 48 horas de programação. Mas o resultado dessa vitória foram os anos que você tem de experiência + 48hrs.
2. Hoje em dia vemos muitos jovens desenvolvedores muito empolgados com a ideia de criar suas startups e desfrutar de todas as vantagens que essa escolha pode trazer. Na sua visão, qual o maior erro cometido por esses jovens iniciantes na hora de criar suas empresas?
O maior erro de todos eles é esquecer que a receita financeira deve ser o maior foco da empresa.
Não adianta você criar um produto brilhante e esquecer disso, porque o dinheiro vai acabar e você vai quebrar.
Quantos produtos medíocres nós conhecemos que estão ganhando toneladas de dinheiro? O tempo inteiro as pessoas questionam, como pode esse cara estar ganhando dinheiro com esse produto/serviço ridículo E a resposta é bem simples: ele priorizou o dinheiro.
Criar um produto é a coisa mais fácil do mundo, vender e fazer dinheiro com ele é um mundo completamente diferente. Quando alguém consegue juntar esses dois conhecimentos, eis que surgem os negócios realmente brilhantes.
E te digo, isso é muito raro de se ver.
3. Sua experiência inclui participação direta no processo de ganho de escala da Vex. Você acha que atualmente é mais fácil ou mais difícil atingir a escalabilidade, em comparação com alguns anos atrás?
A Vex teve absolutamente tudo para quebrar, chegamos ao fundo do poço, tendo links de internet do escritório sendo cortados e luz, o time inteiro foi trabalhar na garagem de um dos sócios. Até que o investimento entrou, a gente conseguiu pagar todas as dividas e o negócio conseguiu se sustentar até o mercado estar pronto para consumir o Wi-Fi.
O Brasil está melhorando lentamente, no eco-sistema de startups um dos pilares mais importantes é o investidor. Neste ponto a melhora foi sutil, ainda tem muito espaço para crescer. Os consumidores e e-consumidores aumentou de forma massiva e isso é excelente, mas junto com ele a concorrência veio junto, então sendo bem sincero, acho que as dificuldades de empreender sempre existirão, seja na dificuldade de encontrar um investidor, na concorrência ou no mercado.
4. No livro você cita diversas metodologias muito populares no exterior, com destaque para o Vale do Silício. Qual você acha que é a principal adaptação necessária dessas metodologias para o mercado brasileiro?
O maior mercado do mundo de startups de tecnologia é os Estados Unidos, ponto. As vezes a gente se engana achando que o Brasil está próximo deles, até porque em muitos rankings eles estão em primeiro lugar e nós em segundo, mas isso não diz muita coisa, pois a distancia entre o primeiro e o segundo é ridícula. Isso faz com o que as nossas realidades sejam completamente diferentes.
Pouco tempo atrás fiquei sabendo de um brasileiro que foi estudar nos Estados Unidos e ao terminar seu MBA conseguiu captar alguns milhões de dólares de investimento somente com uma apresentação. Sabe a chance disso acontecer nos dias de hoje no Brasil? ZERO. Exatamente por essa razão que a diferença entre os nossos mercados está encrustrada em tudo que você fizer e nada mais justo do que isso estivesse refletido no livro. E está.
5. Se tivesse que resumir em uma dica, qual seu principal conselho para o leitor do Saia do Lugar que quer empreender com sucesso na área de tecnologia no Brasil?
O processo de empreender é tão longo e difícil, que você por diversas vezes pensará em desistir. A maioria desiste. A única maneira de você conseguir manter a sua disciplina, persistência e espirito Brasileiro de não desistir nunca, é fazer o que se ama. Não cometa o erro de iniciar um empreendimento pensando em dinheiro. Pense em fazer algo que lhe fará acordar mais cedo do que todo mundo, porque a sua startup é emocionante demais para perder tempo dormindo.
Fonte: Saia do lugar
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