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terça-feira, 9 de julho de 2013

ENTREVISTA: Planejamento financeiro: Viver ou poupar? Eis a questão!


Entrevista com Gustavo Cerbasi

 

Famoso consultor financeiro, Gustavo Cerbasi dá dicas valiosas e ainda conta que sua participação (indireta) no cinema brasileiro continuará  - depois do sucesso de “Até que a sorte nos separe” (Globo Filmes), os produtores estão trabalhando em uma continuação. Confira a entrevista recheada de boa informação que preparamos para vocês!

 
 Quais são as tentações que alguém enfrenta quando determina guardar dinheiro e a quais pode e não pode ceder?

Gustavo Cerbasi: Guardar dinheiro requer disciplina, que por sua vez é fruto de motivação. Se a pessoa não tem um motivo muito significativo para guardar dinheiro, qualquer propaganda já é motivo para quebrar a disciplina. O grande problema é que, para poupar, as pessoas abrem mão de qualidade de vida. Na preguiça de fazer um ajuste mais significativo no estilo de vida, acabam cortando os gastos mais fáceis de serem eliminados, que normalmente tem a ver com lazer, pequenos presentes e indulgências. O ato de poupar é visto como punição, e por isso existe todo um processo subconsciente tendendo a sabotar nossos planos. Por exemplo, quem facilmente cede a uma tentação de compra em uma vitrine é porque está vendo na compra uma recompensa muito maior e mais imediata do que na poupança. A vida está ruim e vai ficar melhor após a compra. Se estivesse poupando para realizar um dos grandes sonhos de sua vida, certamente pensaria duas ou três vezes antes de ceder a uma tentação.

 

 Como mudar a cultura do brasileiro no que tange ao planejamento financeiro? E a cultura de investimento?

Gustavo Cerbasi: Em primeiro lugar, precisamos conscientizar as pessoas de que não é cortando o cafezinho e a manicure que devemos fazer poupança. As pequenas recompensas do dia a dia nos dão estabilidade emocional, e por isso devem estar no topo de nossas prioridades de consumo. A poupança será viabilizada quando aquele que pode comprar uma casa de R$ 100 mil perceber que viverá melhor comprando outra de R$ 80 mil, pois terá sobras tanto para poupar quanto para consumir qualidade de vida. Devemos deixar de lado a condenação do supérfluo (já que tudo que consumimos para nos sentir bem não pode ser chamado de supérfluo) e convidar o brasileiro a rever o padrão de suas grandes escolhas – principalmente carro, casa, escola e moda. Quanto aos investimentos, o que nos falta é simplesmente a cultura desse tema. Como a riqueza é desigual no Brasil, investir ainda é tido como um assunto para poucos. Faltam exemplos a serem seguidos. É preciso compartilhar muito mais histórias de sucesso de pessoas comuns, para que os mais jovens tenham boas inspirações a seguir.

 

 O ensino de educação financeira nas escolas seria essencial para mudar a cultura brasileira no assunto?

Gustavo Cerbasi: Seria preciso mais do que isso. A educação financeira já começou nas escolas privadas há alguns anos, e neste ano começou também em escolas públicas. Mas, enquanto as crianças aprenderem na escola e não perceberem seus pais praticando em casa, educação financeira será apenas conhecimento geral. É preciso um estímulo maciço de mídia e das instituições para que a população adulta mude seus hábitos, para que as crianças reforcem na prática o aprendizado que já recebem nas escolas. É muito difícil estimular a poupança quando todos a seu redor agradecem a Deus pelo limite do cheque especial.

 

Você conquistou seu primeiro milhão pouco depois dos 30 anos, como conseguiu? O que considera que foi primordial para isso?

Gustavo Cerbasi: Foi uma combinação de informação com desconforto. Eu lecionava em uma instituição de ensino de finanças, que me dava acesso ao mundo dos investimentos, ao mesmo tempo em que me sentia mal por ter uma grade de trabalho muito extensa e desgastante. Em algum momento, enfiei na cabeça que não poderia trabalhar a vida toda com aquilo, e que o caminho para conseguir isso seria poupando grande parte do que eu ganhava. Vieram os planos para casamento e uma motivação a mais para juntar dinheiro. Algum tempo depois, os resultados dessa motivação se transformaram em combustível para os investimentos. Vendi nosso apartamento e fiz investimentos muito oportunos durante a crise de 2002, quando o Lula foi eleito. Daí nasceu uma regra importante: quanto mais insatisfeito você estiver com sua carreira, mais deve poupar, já que os satisfeitos podem esperar muito mais tempo para se aposentar.

 

O que você recomenda para uma pessoa que nunca planejou seu orçamento e não costuma poupar e quer fazê-lo? Quais são os primeiros passos?

Gustavo Cerbasi: Não queira inventar a roda, comece simples. Adotar um software de controle vai ser como colocar uma pedra no sapato, alterando sua rotina. Tente manter a rotina, adotando práticas simples como guardar todos os comprovantes de compras em uma caixa de sapatos. Apenas as compras sem comprovantes devem ser anotadas. No fim do mês, organize seus gastos em uma lista, e repita esse processo a cada mês. A consciência de evolução e variedade de gastos já nos desperta uma nova postura de consumo. Se você perceber que gasta demais com restaurantes, por exemplo, tenderá a ser mais racional na escolha do próximo prato. Se você adotar uma série de ferramentas de controle que lhe tomam um tempo diário, perderá essa disciplina na primeira semana mais complicada de trabalho e não mais retomará. Um passo por vez: primeiro organizar e dar mais qualidade ao consumo, para depois começar a rever os grandes gastos e reduzir o custo de vida, para só em um terceiro momento adotar a disciplina de poupança.

 

 E para aquelas pessoas que já poupam: elas devem continuar com a poupança ou procurar outras fontes de rendimentos (outros tipos de investimentos)?

Gustavo Cerbasi: Sugiro que apenas leiam sobre investimentos. Não faltam informações no site de seu próprio banco, e já existem dezenas de livros sobre investimentos nas livrarias, entre eles o meu ”Investimentos Inteligentes”. Conscientizar-se das oportunidades naturalmente conduzirá o leitor a fazer escolhas melhores. O que falta hoje às pessoas é o precioso tempo para parar e pensar. Pare. Pense. Esse tempo para você irá se pagar muito bem em sua vida.

 

Você acompanha a evolução de casos de pessoas que aprendem com seus ensinamentos? O que eles dizem?

Gustavo Cerbasi: Encerrei meu escritório de consultoria individual/familiar há cinco anos, e por isso não tenho mais um acompanhamento formal de meus casos. Mantenho relacionamento com alguns de meus ex-clientes, mas em número insuficiente para caracterizar uma estatística. Obviamente, acredito que se esses ex-clientes não estivessem bem sucedidos em suas finanças, não teriam amizade comigo até hoje. Mas, diariamente recebo através do rádio, e-mail e redes sociais dezenas de depoimentos de pessoas que afirmam terem mudado completamente suas vidas após uma palestra ou leitura de livro meu. Fico feliz com isso, mas não me considero o responsável pela mudança. As pessoas mudam suas vidas para melhor em razão do conhecimento, e não de quem o transmite.

 

 Quais são os principais problemas que uma pessoa tem para não conseguir poupar (gastar mais do que ganha, cheque especial, parcelamento etc) e como contorná-los?

Gustavo Cerbasi: Perdemos o controle quando estamos infelizes e frustrados, buscando no consumo um sentido de realização que não conseguimos na vida. Para reduzir os impulsos de consumo, precisamos de mais recompensas. É por isso que convido as famílias a conversarem mais sobre dinheiro, e que iniciem frequentemente esse assunto com a pergunta: “você está feliz?”. Não podemos esperar o futuro para alcançar as recompensas da vida, pois esse futuro pode não acontecer. As recompensas devem acontecer hoje, com ajustes no padrão de vida para que possamos garantir verbas para realizar sonhos. Mesmo que seus sonhos sejam futuros, você estará mais feliz poupando para garantir a faculdade de seu filho do que se não conseguisse fazer isso. Rotular a poupança é fundamental. Não basta poupar. Você poupa para quê? Qual sonho vai ser realizado? Faculdade do filho, aposentadoria de R$ 10 mil por mês, festa de bodas de ouro, volta ao mundo? Esses itens devem vir no topo de suas escolhas de consumo. Se tiver que morar em uma casa menor e mais simples, será melhor poder sair dela no fim de semana e realizar sonhos do que passar o fim de semana trancado e frustrado em uma casa maior, concorda?

 

 Quais livros você já têm publicados?

Gustavo Cerbasi: Já são 12 títulos, com pouco mais de 1,5 milhão de exemplares vendidos em seis países. Os mais importantes são “Casais Inteligentes Enriquecem Juntos”, com 1 milhão em vendas, “Investimentos Inteligentes”, com 125 mil e Dinheiro, “Os Segredos de Quem Tem”, com pouco mais de 100 mil. O mais recente é o “Dez Bons Conselhos de Meu Pai que Me Ajudaram Muito a Prosperar”, onde tiro lições de várias passagens de minha vida pessoal (que está sendo lançado esta semana no Brasil).

 

Como foi a experiência de ajudar em uma produção cinematográfica (filma “Até que a sorte nos separe”, da Globo Filmes)? Você acredita que assim consegue atingir mais gente?

Gustavo Cerbasi: Essa foi, certamente, a experiência mais rica de minha carreira. Quando surgiu o convite eu não esperava muito, mas, aos poucos, produtores e distribuidores foram apostando no projeto, que acabou se tornando no maior sucesso do cinema brasileiro de 2012. Meu objetivo, que era o de levar educação financeira a um público muito maior do que o de leitores, foi atingido. O roteirista Paulo Cursino e o diretor Roberto Santucci são os grandes responsáveis pela genialidade do filme. Contando com eles, meu trabalho ficou relativamente fácil no projeto. Fizemos alguns brainstorms para gerar ideias para o Cursino, e depois eu fiz alguns comentários sobre o roteiro para dar mais credibilidade aos papéis do consultor financeiro e das instituições financeiras. Também fiz um laboratório com o Kiko Mascarenhas, que fez o papel do consultor financeiro. O Kiko acabou se dando bem, pois o laboratório foi uma consultoria que prestei para ele. E o resultado do filme foi tão bom que já estamos produzindo a continuação. Em breve, “Até que a sorte nos separe 2”!

 

 Qual seria sua consideração final para nossos leitores e parceiros?

Gustavo Cerbasi: Enriquecer é uma questão de escolha. Vivo essa ideia, e meu trabalho é levá-la ao maior número possível de pessoas. Enquanto as portas estão abertas, peço licença e vou entrando. Há muito a ser feito pelo nosso pobre país.

 

Entrevistado: Gustavo Cerbasi é consultor financeiro e autor de diversos livros, entre eles “Casais inteligentes enriquecem juntos” (Editora Gente), “Investimentos Inteligentes” (Ed. Thomas Nelson Brasil), “Dinheiro – Os segredos de quem tem” (Ed. Gente), “Cartas a um Jovem Investidor” (Ed. Campus e o mais recente Dez Bons Conselhos de Meu Pai que Me Ajudaram Muito a Prosperar (Ed. Fontanar), lançado nesta semana.

 
Fonte: AJMC

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