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quarta-feira, 28 de agosto de 2013

ENTREVISTA: EX PROFESSOR DA HARVARD FALA SOBRE PERFIL DO BOM LÍDER E DÁ DICAS IMPORTANTES

Os ensinamentos de Ram Charan, o "guru" dos mais poderosos

Ex-professor de Harvard e conselheiro de Jack Welch fala sobre o futuro da economia e da liderança
Com a voz pausada e a calma característica de um sábio guru indiano, o consultor Ram Charan já deu seus conselhos para boa parte dos homens mais poderosos do mundo corporativo. O atual CEO da General Electric, Jeffrey R. Immelt, foi um deles. Ao suceder Jack Welch, ele recorreu aos seus ensinamentos para iniciar sua jornada no comando da companhia.
O próprio Welch em sua biografia cita Charan como uma pessoa que o influenciou e ajudou a definir conceitos. A trajetória do consultor nos bastidores das grandes corporações começou há 35 anos. Passaram por sua tutela os presidentes da EDS, da Ford, da Duke Energy, entre outras.
Aos 65 anos de idade, ele coleciona sucessos tanto no currículo empresarial como acadêmico. Charan fez doutorado em Harvard e foi o primeiro professor indiano a dar aulas na prestigiosa universidade. Também lecionou em Kellogg, outra renomada escola na área de negócios.
Seus diversos livros, invariavelmente, tornam-se best-sellers. "Execução- A Disciplina para Atingir Resultados" (editora Campus) escrito a quatro mãos com Larry Bossidy, esteve por 50 semanas na lista dos mais vendidos do jornal The New York Times. Tanta popularidade é fruto de pensamentos e receitas simples, fáceis de entender. Charan acredita que os dilemas enfrentados na mercearia do pai, onde trabalhou quando adolescente, não são muito diferentes dos vividos nas grande corporações.
Nos próximos dias 8 e 9 deste mês, ele estará no Brasil para participar da série de palestras Special Management Programs "Execution", promovida pela HSM. Antes de chegar ao país, semana passada, ele concedeu por telefone uma entrevista exclusiva ao Valor onde falou sobre as mudanças estruturais que ele vê para os próximos dez anos na economia, no monopólio dos recursos naturais, na distribuição demográfica, no crescimento dos países desenvolvidos e o que deve acontecer dentro das empresas. A seguir os principais trechos dela:
Valor: Quais serão as grandes mudanças que o sr. vê acontecendo no mundo nos próximos dez anos?
Ram Charan: Existirá um número maior de mudanças estruturais importantes. A primeira será uma grande mudança na governança corporativa com o conselho usando sua responsabilidade cada vez mais seriamente. O poder será dividido. Ele se tornará mais equilibrado entre o CEO e o conselho. A segunda é que no mundo desenvolvido como o Japão, Europa e Estados Unidos, a taxa de crescimento será mais lenta. Enquanto em países como a China, India, Brasil e Europa Oriental ela deverá continuar a crescer. Outro aspecto que eu vejo é que se os países desenvolvidos continuarem a usar a energia, os metais e minerais de forma desproporcional isso provocará distorções. O desequilíbrio dos déficits nos acordos de comércio continuarão por muito tempo. Isso irá afetar o sistema financeiro e o efeito colateral disso é que os preços da energia continuarão altos e o fluxo de dinheiro irá aumentar para os donos dessas fontes. Isso afetará o destino desses dólares. Eles poderão estimular novas pesquisas, tecnologias e também dar mais força política para alguns países. A América deverá investir em energia nuclear. Outra grande mudança que eu consigo ver é demográfica. A população na China e na Índia estará mais jovem, enquanto as populações do Japão e de Nova York (EUA) estarão mais maduras, com idades avançadas. E toda essa mudança demográfica terá um impacto na qualidade e na oferta de talentos disponíveis. Existe uma grande mudança vindo por aí.
Valor: Qual o perfil ideal do líder empresarial nesse cenário futuro?
Charan: Esta era requer novas habilidades para os líderes. Eles terão que saber se voltar para o exterior. Terão que olhar para as companhias de fora para dentro. Ter um bom raciocínio lógico. Ser bons em conectar os pontos. Terão que ter coragem emocional para enxergar a diversidade. Imaginação para ver parte da foto e conseguir completa-la. Isso irá requerer uma habilidade especial de liderança. O CEO da General Electric, Jeffrey R. Immelt, na minha concepção, já é o modelo do líder do século 21.
Valor: O sr. acredita que um bom líder pode transformar assuntos complexos em procedimentos simples?
Charan: Claro, esta é uma qualidade que eu ía dizer. Ele deve saber encontrar pistas na nebulosa bagunça da complexidade. Ele consegue encontrar o caminho para a simplicidade sem ser superficial. O líder tem que ser prático.
Valor: O sr. acredita que a simples presença de um líder eficaz ajuda a organização a se sentir mais forte? Uma pessoa tem esse poder?
Charan: O bom líder sabe que não pode fazer tudo sozinho. Ele também sabe que as organizações mudaram algumas peças de lugar que precisam funcionar juntas, sincronizadas. Seu trabalho não é fazer isso, mas ter certeza que isso será feito. Isso requer o fortalecimento da organização, mais delegação e um novo desenho do sistema social.
Valor: Porque dois em cada cinco CEOs , na sua opinião, falham depois de 18 meses no cargo?
Charan: A razão mais crítica é a falta de adequação às habilidades requeridas pelo emprego. Por exemplo, muitas das pessoas que sabem fazer grandes "turnarounds", não são líderes que promovem o crescimento. Existem outros que fazem crescer mas não sabem provocar um "turnaround". A razão principal é a seleção errada. A segunda é que quando eles entram na organização eles parecem sentir que podem fazer tudo e não prezam muito os relacionamentos fora e dentro da companhia. Outro motivo é que eles não são capazes de mudar o curso quando não tem sucesso e não enxergam que é preciso construir uma energia humana positiva que vem de dentro.
Valor: Se é tão importante para o futuro da companhia acertar nessa escolha do CEO, porque as companhias e os conselhos não prestam mais atenção aos planos de sucessão?
Charan: É muito boa essa questão. A atenção do "board" na seleção dos CEOs começou a ganhar mais foco nos últimos dois anos. Eles estão mais dedicados a isso. Em quatro ou cinco anos você verá alguma melhora nisso ou o fracasso.
Valor: Quando os conselhos falham no planejamento da sucessão do CEO, os headhunters precisam entrar em ação e agir rápido. Na sua opinião, qual o risco deste procedimento?
Charan: Não existe nada errado no procedimento, mas o conselho deve fazer as coisas no tempo certo. Ele tem que dar para os headhunters as especificações da pessoa e do trabalho que consideram compatíveis com o cargo.
Valor: Quando eles não fazem isso quais o que pode acontecer?
Charan: Quando eles não fazem isso você corre um alto risco de fracassar. Se você fracassar, o furo irá prejudicar a organização. Os headhunters fazem o trabalho essencial, nada errado com eles. Mas eles não conhecem a companhia, os conselhos têm que atuar. Eles podem ajudar, mas os conselhos é que têm que fazer. O trabalho é deles.
Valor: Falando sobre governança corporativa o sr. pode apontar alguns mecanismos novos ou já existentes que o sr. considera cruciais para uma boa governança?
Charan: A boa governança significa uma agenda preenchida. Os conselhos têm seções com os executivos, fazem uma auto-avaliação, dão um feedback útil para o CEO, mostram que existe um fio condutor de liderança. Estes são os requisitos mínimos.
Valor: Qual a dificuldade então para que eles funcionem desta forma?
Charan: Isto já está acontecendo. O conselho da General Electric é muito progressista e aplica isso tudo.
Valor: Como fazer um bom uso do julgamento e do poder coletivo dos conselhos nas empresas?
Charan: O melhor uso do julgamento dos conselhos é ter certeza que eles entendem a estratégia da companhia. Eles são muito prestativos para avaliar isso, eles devem ajudar você a ver o ambiente externo para não perder acordos importantes. Eles ajudam nesta avaliação de alocação de recursos. Ajudam você a exercer a liderança pelo cliente.
Valor: É assim que o sr. acredita que a governança corporativa pode ser usada de forma competitiva?
Charan: Fazendo isso, as empresas tirarão proveito da vantagem que criaram. O segredo da boa governança é conectar o conselho e os administradores. Eles devem estar na mesma página.
Valor: Eles deverão planejar a estratégia juntos?
Charan: Não. Os conselhos ajudam, avaliam, os administradores propõe a estratégia.
Valor: São papéis diferentes.
Charan: Conselhos planejam, questionam, ajudam com idéias.
Valor: Quem executa?
Charan: Os gerentes.
Valor: No seu livro "Execução" (Execution: The Discipline of Getting Things Done) o sr. diz que a execução não deve ser delegada. Quem fica com a responsabilidade?
Charan: Se você é o líder sempre será encarregado da execução, poderá delegar apenas uma porção disso. O líder deve desenvolver sua própria disciplina para a execução.
Valor: Esta é uma receita só para o líder ou serve para todo mundo?
Charan: É a disciplina do hábito e serve para cada líder e para todo o sistema social que trabalha de forma rotineira.
Valor: Em seus livros o sr. fala muito sobre o cuidado necessário na hora de promover o crescimento do negócio. Como é possível perceber que a companhia está crescendo do jeito errado?
Charan: O bom crescimento é o que é lucrativo, que usa o capital de forma prudente e como uma vantagem competitiva. É o que sustenta uma situação de crescimento para o futuro.
Valor: Como sustentar o crescimento no futuro?
Charan: Com inovação, com o aprimoramento contínuo da produtividade e o alinhamento com os consumidores que você tem ou ainda não tem.
Valor: Qual seria o seu principal conselho para um líder hoje?
Charan: Olhe para o contexto externo e encontre oportunidades. Escolha as pessoas certas e entregue resultados.


Fonte: VALOR ECONÔMICO
Autor: Stela Campos

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