O design do produto tem de fazer parte, cada vez mais, do plano de composição do lucro
O que tem em comum uma bicicleta ergométrica, uma balança eletrônica, uma alisadora automática de roupas, um sistema de iluminação e aquecimento multiuso a gás, um gabinete ultra-som ou um apagador multifuncional?
À primeira vista talvez pouca coisa, mas esses são alguns dos produtos que estão no Centro São Paulo Design (CSPD) - associação sem fins lucrativos formada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), Secretaria da Ciência e Tecnologia e Instituto de Pesquisas Tecnológicas (lPT) - para receberem uma nova concepção. Sheila Brabo, gerente da associação, afirma que é fundamental entender o design como um projeto maior, que inclui um redesenho do produto de acordo com o público-alvo de cada empresa e um posicionamento junto ao panorama do mercado, ou seja, ele é um componente de competitividade do qual não de pode abrir mão. "É preciso incorporar o design como estratégia de negócio", sentencia.
Essência do sucesso
A gerente do Centro São Paulo Design não está sozinha em sua afirmação. Consultores da área são enfáticos: quem perder esse bonde pode acabar de fora. "O uso do design varia bastante de setor para setor, mas, por exemplo, nos ramos de calçado e moda o design não é só funcionalidade, ele é tudo. Não há como não entender a sua necessidade", comenta Maurício Mendonça, gerente executivo de competitividade industrial da Confederação Nacional da Indústria (CNI).
Em outros lugares do mundo, o design já é francamente utilizado como estratégia. Segundo dados levantados por Lars Diederichsen, consultor e diretor da empresa Terra Design, 40% das pequenas e médias empresas européias fazem uso desse recurso. No Brasil, esse número não passa de 10%. Os motivos parecem ser os mais diversos, e a falta de uma visão estratégica é um deles. A sensação é de que os empreendedores, na luta diária pela sobrevivência no mercado, acabam não estabelecendo planos que permitam a 'entrada' do design no processo de desenvolvimento.
Números indicam, por exemplo, que 67% das empresas inglesas consideram design uma ferramenta estratégica indispensável, enquanto no Brasil o seu uso ainda é uma exceção. "A gente percebe que, para os empreendedores decidirem apostar, é preciso mostrar que por trás 'do belo' há um projeto que possibilitará a ele ganhar mais dinheiro", explica o coordenador do Programa Via Design do Sebrae nacional - em São Paulo, Paulo Franzosi.
Porém, diante de novos desafios como a entrada dos produtos chineses no mercado, os empresários aos poucos estão percebendo que investirem design é decisivo. Competir com diferencial é uma das formas de enfrentar o maior grau de abertura da economia brasileira, que propiciou uma competição mais acirrada nos bens de consumo, induziu uma necessidade de constante atualização do estilo, funcionalidade e estética dos produtos nacionais.
"Um bom design é capaz de mudar a história do produto", declara o da Escola Superior Propaganda e Design, Fábio Mestriner, para quem vários casos podem ilustrar essa afirmação. O quesito embalagem, por exemplo. "Quando a aposta sai acertada, o impacto direto no produto é certo", conta. Segundo ele, a marca própria do Carrefour, com as alterações feitas em sua embalagem, conseguiu obter um aumento de 150 % nas vendas dos produtos.
Mestriner conta que estudos sobre o consumidor mostram que ele não dissocia o produto da embalagem. Por isso, ela é um de 'detalhe' que faz toda a diferença. "A embalagem é uma referência para
a avaliação do produto", ressalta o professor. Para ele, com as margens de lucro cada vez mais espremidas, os empresários acabam ficando mais atentos aos meios de conseguir baratear os custos de produção e decidem investir em alternativas aparentemente simples,como a utilização de um novo material na confecção de uma embalagem, por exemplo.
Ferramenta à indústria
As empresas têm que apostar na inovação de seus produtos como um componente para competir. Sheila Brabo, do Centro São Paulo Design, lembra que é importante manter em foco que o design não é uma questão de estética, é uma questão de gestão de um negócio. "E agora ele está massificado, não é feito para poucos, é acessível para todos. Aqui recebemos empresas em busca de aperfeiçoamento tecnológico nas mais variadas áreas, móveis, cosméticos, calçados, eletrodomésticos entre outros", diz ela. Aos poucos o design passou a ter uma conotação prioritária nas decisões empresariais. "A tendência é o seu crescimento", indica Mendonça, da CNI.
No caso da indústria essa tendência pode ser verificada. Pesquisa realizada pela entidade industrial para conferir diferentes aspectos de competitividade, apesar de constatar que as empresas não incorporaram o investimento em design de produtos em suas estratégias, detectou que há sinais de que elas percebem a importância do design.
Fomento
Com o objetivo de transformar o design em um recurso ao alcance do empreendedor, o Sebrae, há quatro anos, lançou o Programa Via Design e colocou à disposição uma rede de atendimento com 15 centros de design e 85 núcleos de inovação e design, totalizando 100 unidades distribuídas por todo País. Além disso, saiu à frente investindo em infra-estrutura, sensibilização, geração de conhecimento, aplicação de metodologias, eventos, palestras e fomento às ações básicas do design. "Há uma onda de design no País. Só no item embalagem existem 150 projetos sendo realizados. Sendo 20 em São Paulo", conta o professor Mestriner, se referindo a um projeto de parceria que o Sebrae-SP tem com a Associação Brasileira de Embalagem (Abre). "É o que eu chamo de democratização do design", conclui.
Fonte: DIÁRIO DO COMÉRCIO & INDÚSTRIA Autor:
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