Fotos compartilhadas no Facebook, experiências narradas pelo Twitter, check-ins no Foursquare. Este é o retrato do Brasil dos últimos tempos: um país traduzido em bits, que encontra nas redes sociais o motivo e o recurso para se fazer ouvir. Em passo acelerado, o ambiente digital supera o título de suporte que ora fora seu e assume posição de destaque nas mobilizações dos brasileiros – ele é, também, o próprio movimento. O que seria hoje da chamada “vida real” sem a hashtag #OGiganteAcordou, ou sem os eventos que reuniram virtualmente milhares de ativistas para depois levá-los às ruas? Qual a influência do online no offline? Esse é o assunto que mais despertou interesse nos leitores de acordo com enquete no Facebook realizada por Pense Empregos e Unisinos.
Com a faca e o queijo na mãoAs redes sociais têm servido não apenas como intermediadoras de discursos, mas como expressões legítimas da sociedade. Isso significa que mesmo quem não participa das atividades nas ruas tem alternativa, vê em páginas online a oportunidade de manifestar apoio à causa. A plataforma midiática é a solução encontrada por muitos para exercer a cidadania de forma integral, conectada e, inclusive, à distância. Segundo a coordenadora da especialização em Cultura Digital e Redes Sociais da Unisinos, Adriana Amaral, os canais virtuais funcionam tanto como recurso para mobilização e organização quanto para disseminação da motivação dos atores envolvidos, uma vez que as discussões vão e voltam constantemente.
Com todo um arsenal de ferramentas à mão, qualquer usuário comum de internet pode somar esforços às demandas do país, e é isso o que a população tem feito. De acordo com levantamento da consultoria Serasa Experian, divulgado no jornal Valor Econômico, 70% da taxa de participação do Facebook no dia 13 de junho se deu por parte de brasileiros. O Twitter não ficou atrás: entre os dias 6 e 26 do mesmo mês, foram cerca de 11 milhões de tweets com a palavra “Brasil”, e 2 milhões citando o termo “protesto” – números que, por si só, explicam a repercussão dos fatos, inclusive internacionalmente.
Aos olhos do mundoEm situações históricas como esta pela qual passa o Brasil, as redes sociais saem na frente das mídias tradicionais no quesito divulgação. Mais se fica sabendo pelos canais de convivência, por compartilhamentos dos usuários, do que por veículos convencionais, como jornais e revistas. Além disso, há uma questão geográfica e temporal envolvida: graças à presença de sites de relacionamento como Facebook e Twitter em países de todo o mundo, a informação chega rápido lá fora – o velho dizer “conheço alguém que conhece alguém que mora no exterior” –, enquanto meios impressos dependem do dia seguinte e ficam restritos aos seus públicos de leitores. Daí o fato de grandes empresas de comunicação terem aderido ao uso das redes em suas redações.
A aparência que os acontecimentos têm aos olhos do mundo, portanto, deriva dos próprios usuários: se positiva ou negativa, quem define é a pessoa por trás da tela. A situação do Brasil, por exemplo, divide opiniões. De um lado, há quem concorde com os ideais da causa. De outro, há quem seja contra. Aí vem a pergunta: desse embate de valores, que imagem o país passa aos estrangeiros? “Depende da recepção da mensagem”, defende Adriana.
Além do superficialAcredite: a capacidade de discernir entre o que é válido e o que não é em meio à torrente de informações que circula pelas redes faz toda a diferença na carreira do profissional. Sabe aquele comentário despretensioso sobre a repressão das autoridades nos protestos? Ou aquele outro a respeito dos atos de vandalismo que (não) lhe representam? Eles todos são analisados. Assim como você.
Estamos cansados de saber, mas, verdade seja dita, a internet é de fato uma extensão das pessoas. O comportamento do funcionário da empresa X na “vida real” nunca se dissocia de quem ele é nas redes sociais. As páginas e os amigos que segue, as publicações que curte, os textos e as imagens que compartilha são parte dele – “diga-me com quem andas e te direi quem és”.
E mais: se o funcionário pensar em trocar de emprego, certo será que as empresas Y e Z farão uma varredura no perfil do cidadão. Numa dessas, vai que descobrem “algo que não deveriam”? Imagine a cena: Fulano se candidata a uma vaga em determinada instituição privada de transporte coletivo. O currículo é bom, a entrevista decorre bem, mas a timeline do Fulano no Facebook revela que ele se manifestou a favor da depredação de ônibus durante os protestos. Detalhe: o ônibus era da exata empresa na qual ele, agora, busca oportunidade. Precisa dizer o resultado?
Para evitar situações constrangedoras, sensatez é fundamental, como destaca a professora: “Pensar o que deve ser exposto de forma aberta é sempre o melhor caminho, uma vez que a liberdade de expressão traz consigo responsabilidades. Manifestar opinião é uma coisa, ofender e gerar preconceitos é outra”. O mesmo vale profissionalmente. Linguagem e conteúdo adequados ao público-alvo, cuidados com detalhes e superexposição de dados pessoais, checagem de fontes e informações são premissas para quem administra redes sociais de empresas. “É uma linha muito tênue, que precisa ser negociada cotidianamente”, afirma Adriana.
Para acertar
Se você chegou até aqui pensando em largar de vez o Facebook e o Twitter para não correr o risco de errar, fique calmo, indiferença nem sempre é a única saída – o importante é saber quando é a melhor. Em muitos casos, o posicionamento apático pode ser tão prejudicial quanto o enérgico, aí cabe ao usuário saber usar o bom senso. Então, #ficadica da professora: “Pesquise se a instituição para a qual trabalha possui políticas sobre usos de redes sociais. Essa é uma área relativamente nova e muitas organizações ainda não sabem lidar com isso. É preciso se informar”.
Fonte: Pense Empregos
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