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sexta-feira, 2 de agosto de 2013

ENTREVISTA com Vítor Lourenço, designer de interação

Todo mundo ouviu o Biz Stone, co-fundador do Twitter, dizer que a ferramenta de mídia social foi criada por acidente, e que depois, foi importante pensar como artista e designer. O que ele nem sempre diz é que um brasileiro comandou o design do Twitter como produto os 20 anos de idade.
Apesar de ter apenas 22 anos, o paulistano radicado em San Francisco (Vale do Silício, EUA) Vitor Lourenço é um designer de interação com 7 anos de experiência. Seus projetos já foram utilizados por milhões de pessoas ao redor do mundo.
1) Na adolescência, você se envolvia com web, idéias criativas, design?
Comecei desenvolvendo sites para uso pessoal. Em 2002, criei uma aplicação online para uso restrito de um grupo de amigos — uma espécie de Facebook — onde trocávamos mensagens e arquivos durante os últimos anos do ensino fundalmental. Após uma grande repercusão no colégio, vi que realmente poderia construir coisas interessantes.
Sempre fui fascinado pela comunicação online, e meus esforços e pesquisas pessoais sempre estiveram ligados a este tema.
2) Você estudou o que? Quando começou a trabalhar? Fazendo o que? Cite alguns trabalhos já desenvolvidos/clientes. Quando você foi para os EUA?
Em 2006 eu me inscrevi no curso de graduação do Istituto Europeo di Design, com o objetivo de me formar em design gráfico. Entretanto, como já estava inserido no mercado, muitas oportunidades foram aparecendo ao longo do curso e senti que seria mais proveitoso abandoná-lo ao receber o convite para trabalhar na Globo.com. Isso aconteceu logo no final do primeiro semestre, quando tinha 18 anos.
Sem dúvida, foi uma das melhores decisões que tomei até hoje, afinal, pude aprender muito mais na prática trocando conhecimento com alguns dos melhores profissionais do mercado nacional. Após trabalhar dois anos na Globo.com, tive uma passagem pelo Yahoo! Brasil, onde fui o responsável pelo design e experiência do usuário do Yahoo! Meme.
3) Como foi o trabalho para o Twitter?
Eu recebi o contato do Evan Williams (co-fundador do Twitter) após ele ter visitado um software que desenvolvi, chamado FoodFeed, e ter se interessado pelo conceito da aplicação e pelo meu trabalho disponível em meu portfolio online.
Fechamos um contrato de trabalho remoto e posteriormente viajei para San Francisco para acompanhar a fase final do projeto de redesign (em setembro de 2008), fazendo os últimos ajustes e acompanhando um pouco do trabalho árduo dos engenheiros em tornar tudo funcional.
4) Neste momento, quais são os projetos em que você está envolvido?
Uma série de novas funcionalidades e detalhes de interface continuam sendo revisados, sempre com o objetivo de aprimorar a experiência final. Este é um trabalho constante, no qual recolhemos números de utilização para estudar com cuidado qual a melhor implementação de novas funcionalidades, de forma a atingir a melhor experiência de consumo. Ainda temos muito pela frente.
No passado participei dos projetos de nossa nova home-page, o novo site para dispositivos móveis, novas sugestões de usuários baseadas em categorias, trending topics locais, a funcionalidade de criar e seguir listas, compartilhar tweets com seus seguidores através dos retweets, e mais recentemente a possibilidade de adicionar a sua localização (cidade, bairro, etc) ou geoposicionamento preciso à suas mensagens.
5) Quantas horas por dia ou semana você trabalha? E quantas você estuda? Como é sua rotina?
Não temos um horário específico, cada um trabalha da maneira que considerar mais eficiente. Particularmente prefiro chegar um pouco mais tarde, pois gosto de trabalhar durante a madrugada. Minha rotina divide-se entre o design e implementação de novas funcionalidades e melhorias na experiência de uso. A maioria da equipe costuma se socializar frequentemente.
Muita coisa acontece aqui mesmo, dentro do escritório. É comum encontrar os engenheiros e designers compartilhando pizzas e cervejas durante a noite de quinta-feira, trabalhando em projetos paralelos — o que chamamos de Hackathon, maratonas noturnas construindo coisas interessantes para o Twitter. É realmente muito divertido.
7) Quais você acha que são as diferenças entre trabalhar com web no Brasil x nos EUA?
Aqui tenho contato diário com pessoas que sempre admirei — e que jamais imaginei que fosse conhecer pessoalmente. Não existe lugar melhor no mundo para se trabalhar com Internet que não seja o Vale do Silício — as empresas mais importantes estão localizadas aqui: a cultura de inovação é constante e as pessoas estão muito mais abertas a novas idéias e possibilidades.
A pior coisa é estar longe da família e dos amigos de infância—mas o interessante é que grandes inovações elaboradas aqui contribuem para diminuir esta distância.
8) E diferenças entre trabalhar em uma empresa grande x em uma startup x em uma startup grande? :)
As diferenças são muitas. Em uma startup as coisas acontecem de maneira mais ágil — existem menos processos e menos burocracia. Além disso, geralmente você trabalha com um time muito menor—fazendo com que seu impacto seja muito maior.
Entretanto, existem formas de se escalar uma grande empresa para que ela continue sendo produtiva e mantenha este ambiente de startup—é o que estamos tentando fazer aqui, onde já temos mais de 150 funcionários trabalhando em equipes multifuncionais e interdependentes.
9) Em algum momento você sentiu alguma diferenciação por ser brasileiro ou muito jovem?
Até o momento foi sempre uma vantagem. Meu trabalho recebeu muita exposição devido a algumas conquistas consideradas precoces. Fui mencionado em publicações como a Wired Magazine, Fast Company, TechCrunch e ReadWriteWeb, sem contar a maioria das grandes publicações e jornais brasileiros. Sempre fui respeitado pela qualidade de meu trabalho.
10) Se você fosse fazer algo diferente, o que seria? E quais são seus sonhos?
Não gosto de fazer planos para o futuro. No momento estou 100% focado em aprimorar a experiência de uso no Twitter, mas pretendo um dia construir minha própria startup aqui no Vale do Silício. Quem sabe?
11) O google faz doodles temáticos em datas específicas. Em 7 de setembro, você vai botar a bandeira brasileira na homepage do twitter? (risos)
Provavelmente não, apesar de ter orgulho de ser brasileiro.
12) Que dicas você daria para jovens brasileiros aficcionados por web e que pretendem se realizar trabalhando na área?
Todo o conteúdo necessario para seu aprendizado está disponível na internet. Não são necessárias aulas ou cursos específicos, muito menos uma faculdade especializada (não existem cursos de Design de Interação maduros o suficiente no Brasil).
Entretanto, isso não torna o aprendizado mais fácil — e sim, mais difícil. É um requisito básico ser apaixonado por internet, dedicar-se muito consultando as melhores fontes bibliográficas e acompanhando a trajetória de profissionais de sucesso. Estar atualizado é um requisito fundamental.


 Fonte: Site do Empreendedor

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